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Portela – Rio, azul da cor do mar
Porto de Sapucahy , verão de 2011:
Soltem as amarras e deixem as velas enfunarem ao sabor do vento. Vejam o cais se distanciar e, com ele, as lembranças que ficaram. Na bagagem, trazemos sonhos e esperança. Nossos olhos já não conseguem divisar o que é mar, o que é céu, e tentam traçar uma linha de equilíbrio no horizonte. Singramos no azul!
Subamos à gávea para conversar com as estrelas, companheiras de saudades e solidão. Ora, direis, ouvir estrelas… Por que não? Estrelas são quase tudo o que temos. Além delas, trazemos instrumentos que nos ajudarão a decifra‐las. Elas se espalham pelo céu formando desenhos e um deles nos chama a atenção. É uma águia! Sim, uma águia em forma de constelação. E será esta que escolheremos para nos guiar pela imensidão.
Dizem que o destino está traçado nas estrelas. Ensinam que precisaremos de muita coragem para enfrentar os perigos e, sobretudo, determinação. E, com fé em Deus, navegaremos pelos sete mares que abrirão os portais do coração.
Estamos a muitas braças do continente, nessa noite tenebrosa. A fúria do vento força a resistência dos cabos que sustentam o mastro principal. O tecido das velas parece que não conseguirá resistir. Ondas se agigantam, cobrindo o casco. Raios, relâmpagos e trovões abrem fendas no firmamento.
Começamos a enfrentar o desafio do desconhecido. E, sem que tenhamos tempo de raciocinar, nos deparamos com o medo escondido em nossos porões.
Das profundezas surgem criaturas fantásticas! São polvos, serpentes e dragões abrindo uma estrada na espuma, levando‐nos por um turbilhão sem fim.
Ao abrirmos os olhos, porém, tudo se transforma. Cavalos marinhos conduzidos por guerreiros transportam o cortejo de reis e rainhas que governavam a crença de civilizações que desapareceram no mar abissal.
O que tenta nos dizer a tempestade, afinal?
Respeitar o que é do mar, mas nunca temer. Acima de toda maldade, o bem sempre há de vencer.
Mare Nostrum, sob a luz de Alexandria:
Estas galés que cruzam o nosso caminho transportam toras de cedro, tapetes, tecidos, cerâmicas, corantes, jóias, peças de metal e outros produtos que as mãos do homem foram capazes de moldar.
Do Oriente partem gigantescas embarcações. São os chineses oferecendo novas trocas, ampliando suas rotas, construindo relações.
São mercadorias que remontam aos tempos dos primeiros navegantes, que se lançaram ao mar. Para troca‐las em outros portos, fenícios e egípcios não imaginavam que também deixariam vestígios de sua cultura milenar.
Gregos e romanos inauguraram um tempo de conquistas, ampliando as frentes de comércio e os limites de seus territórios. Da distante Alexandria, brilha uma chama, transformando a noite em dia.
A caminho de Calicut:
Debruçados sobre mapas, lendas e antigos relatos tentamos encontrar o caminho que nos levará às misteriosas terras das especiarias. É para lá que apontam nossos olhos, mergulhados em fascínio.
Para proteger este comércio, mercadores árabes semearam lendas de monstros e gigantes que devoravam quem ousasse cruzar os seus domínios.
Tudo mentira. O pesadelo agora é um sonho. As águas ganham novos matizes e como atrizes representam cada uma de nossas expectativas: cravo, canela, açafrão, flor de lótus e também porcelanas, tapetes, sedas e joias que não se cansam de brilhar.
As mais variadas fragrâncias se misturam no ar. Conseguimos, estamos em Calicut! Mas não devemos nos demorar.
Atlântico, em direção ao Pacífico:
O Velho Mundo despertou para um novo século sabendo que não estava mais só. Por trás do horizonte, entre o nascente e o poente, existiam outras terras e riquezas a se alcançar.
Eram terras primitivas, que ficavam muito além da calmaria e daqui podemos ve‐las. Ao dia, parece uma deslumbrante miragem, ocupada por nativos, adornadas pelas praias e a plumagem dos pássaros mais bonitos que já se viu. Eis a visão do paraiso tropical.
São tantas terras que nossos olhos se perdem ao tentar abraçálas.
Elas se escondem sob florestas, percorrem montanhas e flutuam nas nuvens, onde guardam segredos e mistérios de antigos impérios, que se curvavam diante do Sol. Quantas riquezas brotam de suas nascentes! Ouro, prata, pedras preciosas e uma madeira estranha, que tinge de sangue o tecido mais nobre. Dizem que o futuro a perpetuará na força de um gigante chamado Brasil.
Mare Liberum, numa ilha do Caribe:
Quantas estradas se abrem neste azul sem fim! O Atlântico é cortado em todas as direções. Embarcações de diversas bandeiras transportam cana‐de‐açúcar, café, tabaco e algodão. Já não existem fronteiras para o comércio, nem medidas para a ambição. Outras galés rumam para a África, inaugurando a rota do tráfico negreiro. Trazem milhões de escravos, despejando‐os em solo americano. Aceleram a produção, deixando uma dor que não se apaga e uma chaga que ainda marca o sentimento humano.
Negros vão, corsários vem. O mar já não pertence nem à Armada do Rei. Agora, é terra de ninguém.
» Brasil, entre riquezas e belezas:
Abençoada natureza, que sempre encantará os olhos de quem veleja no aconchego dessa Baía. A mesma brisa que traz lembranças do passado, sopra na direção do futuro, ensinando que o mar foi, é e será a principal via de comunicação entre os povos mais distantes.
Salve, Porto centenário, e esse intenso vai‐e‐vem do comércio exterior. Foi aqui que começaram e depois se intensificaram nossas relações com o estrangeiro.
Esse marulhar fustiga a todo instante, recordando investidas e o va‐e‐traz . As ondas não se cansam de contar todos os tesouros que ficaram para trás; mas ainda guardam nas profundezas a mais preciosa das riquezas, que, por muito tempo, nos impulsionará.
Rio de Janeiro, ponto de encontro de brasileiros de Norte a Sul, de Leste a Oeste; que recebe de braços abertos o jangadeiro e outros irmãos do Nordeste. Rio das praias, das raias, cruzeiros, pescadores da noite e da vida marinha. Terra de São Sebastião, paraíso dos golfinhos.
» Porto dos Amores, Fonte da Inspiração:
Aqui da proa, quando olhamos para trás, não conseguimos dar conta do tempo que passou. Orientados pelas estrelas, desafiamos tempestades, enfrentamos inimigos e aprendemos que navegar é preciso – mas na mesma direção!
Foi assim que descobrimos novos continentes, inauguramos a rota do Oriente e encontramos em pleno mar a Fonte da Inspiração.
Traduzimos os sentimentos em música, transportamos a emoção para a ópera e o teatro, recriamos aventuras em romances, no cinema eternizamos sagas e amores em paginas de clássicos memoráveis. Quando pintamos uma marina, tentando retratar a fascinação que existe em tanto mar, deixamos o azul brincar na tela.
Descobrimos que o mar não é apenas um tema: ele tem início, meio e fim, é um enredo. E toda essa experiência começou quando vencemos o medo, desfraldando as velas no Carnaval.
Pois, o amor é azul. O céu é azul. O mar é azul. E entre eles, navega a nossa querida Portela!
No Reino de Poseidon, tempestade e bonança
Autores: Marta Queiroz, Cláudio Vieira e Roberto Szaniecki
Desenvolvimento: Roberto Szaniecki
Veja o Clip do Samba Enredo:
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