domingo, 23 de janeiro de 2011

TRAGÉDIA NA SERRA:Lágrimas por Teresópolis

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Meu maior orgulho, lá pelos 13 anos, era ter uma casa literalmente às margens do Rio Paquequer, que cruza Teresópolis de ponta a ponta
por ANNA RAMALHO
Meu maior orgulho, lá pelos 13 anos, era ter uma casa literalmente às margens do Rio Paquequer, que cruza Teresópolis de ponta a ponta. Adorava viver às margens do rio que serviu de cenário ao amor de Pery e Ceci, os personagens do romance O Guarani, de José de Alencar, que mamãe me dera para ler. Do lado do terreno de nossa casa na Rua Sloper, 11, em Teresópolis, corria o Paquequer – àquela altura ainda limpo – mas que a cada ano era mais degradado até ser ocupado por uma favela, o que me fez sair de lá muitos e muitos anos depois do primeiro deslumbramento com aquela casa que foi tudo na minha vida de criança e de adolescente.

Quando completei um mês de idade, papai e mamãe me meteram no carro e subimos todos para Teresópolis. Quando meu filho, 28 anos depois, completou seu primeiro mês de vida, lá fui eu com ele para Teresópolis – no Fiat que ganhara de presente por seu nascimento, guiando sozinha, porque o papai só podia subir depois. Em todos os verões da minha vida, por mais de 30 anos, subimos para Terê, para a casa da Rua Sloper.

Ali vivi dias inesquecíveis, sobretudo na adolescência, quando, casa apinhada com as amigas - minhas e as da mana - passávamos as férias, que começavam logo após o Dia de Reis e só terminavam na primeira semana de março, quando a vida no Rio recomeçava. Como odiávamos voltar e deixar pra trás aquele veraneio cheio de festinhas, arrasta-pés ( ui, que coisa antiga!!), banhos de piscina, excursões ao Parque Nacional, os bailes de carnaval do Higino, enfim toda uma agenda das adolescentes badaladas que fomos, para encarar o colégio, as provas, o inglês e o francês.

As chuvas sempre caíam no verão. O temporal tinha até hora certa. Era assim: diariamente, lá pelas cinco da tarde as nuvens ficavam carregadas, vinham os relâmpagos, os trovões assustadores que botavam minha sempre destemida avó em literal pânico, e a água descia, trazendo com ela aquele cheiro da terra molhada, cheiro de chuva mesmo. Geralmente a luz ia embora junto com a tempestade. À luz de velas, olhávamos para o jardim que era iluminado pelos raios furiosos e víamos, apavoradas, as árvores que escapavam da fúria da tormenta sabe-se lá como, as mais frágeis vergando-se quase até o chão muitas vezes. O bambual cerrado que cercava o terreno impedia que as águas do rio fizessem estragos maiores. Chovia impiedosamente durante 40 minutos, uma hora. De repente, tudo passava. A chuva ia embora, a luz era restabelecida, as pessoas sossegavam e o casal de sapos, que acompanhou nossa juventude ao pé da escada da varanda, retornava a seu posto e ali ficava, imóvel, pelo resto da noite. Coachando, namorando, vigiando.

A casa que era minha lá está de pé. Firme e forte. Diz a mana que, ao que saiba, a favela que se formou à beira do rio também está lá. Nada aconteceu. Graças a Deus. Mas, desde que esta tragédia começou, só faço chorar pela cidade que me fez tão feliz e por tantos anos. Ainda que a minha casa esteja lá, o que dizer de tudo o que se perdeu? As vidas, os bens materiais, muitas vezes a própria dignidade. Terê, há anos, vem sendo mal tratada por governantes de quinta, que , não contentes em desfigurar completamente a cidade, não cuidaram minimamente de sua infraestrutura. Locupletaram-se todos, isso é certo. E o povo que se dane. Não é assim que a coisa funciona aqui? Na hora da desgraça, aparecem todos, prometem mundos e fundos, e depois ... Bom, e depois é aquela patifaria que a gente já conhece de cor e salteado.

A presidente Dilma agiu pronta e corretamente: veio visitar o que sobrou da Serra e liberou aquela dinheirama para a Recuperação. Só espero que Sua Excelência – que vem provando que não está aqui de brincadeirinha e que marca em cima e cobra resultados – fique de olhos bem abertos para que não se promova aqueles, digamos assim, desvios. Político não tem coração. Político quer voto. Então, vamos prestar muita atenção agora para ver quem merece o nosso voto no futuro. Eles dependem de nós. Eles são pagos por nós.

Não eram meus amigos íntimos, mas formavam um casal que eu admirava e gostava há mais de 30 anos: bonitos, educados, suaves, gentis, bem estruturados e felizes com a bela família que tinham.

Kitty e Armando Erick de Carvalho: ainda não me recuperei do choque da perda de vocês e do imenso sofrimento por que passa seu filho Erick.

Há momentos na vida, em que a gente não sabe o que falar, nem como consolar. Este é um deles. Saudades. Descansem em paz.
Publicado originalmente em annaramalho.com.br

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